Parece ficção científica, mas a realidade para a biociência nos próximos anos envolve a criação de porcos geneticamente modificados para transplantar órgãos para seres humanos. Quem lidera a equipe responsável pelo desenvolvimento científico dessa empreitada é a geneticista brasileira Mayana Zatz, professora titular de genética do Instituto de Biociências da USP. Com atuação reconhecida nacional e internacionalmente, Mayana foi destaque no 8º Fórum LIDE de saúde e bem-estar, realizado na segunda-feira (22) em São Paulo.
Durante a palestra sobre o papel da genética em tratamentos mais efetivos, Mayana exibiu avanços no xenotransplante, área que estuda transplante de órgãos entre diferentes espécies e pode encurtar a espera de pacientes que necessitam de órgãos.
“Os porcos são os animais que têm órgãos mais semelhantes aos seres humanos. Porém, se transplantássemos o órgão de um suíno, ele seria imediatamente rejeitado. Com a tecnologia de edição de genes, poderemos alterar os genes dos porcos para que eles sejam doadores sem haver rejeição no corpo humano.”
A esteticista Tatiane Paula Castro, 35, teria sido uma beneficiada da inovação. Tatiane passou quase quatro anos aguardando rim e pâncreas compatíveis por causa de uma nefropatia diabética. Durante esse período, a jovem teve que passar por sessões semanais de hemodiálise, com duração de 4 horas cada. Em 2007, finalmente conseguiu a cirurgia, mas garante que, se precisasse novamente, realizaria o transplante com órgão animal.
“A espera pelo órgão é a fase mais difícil e complicada para qualquer paciente. Se houvesse bases científicas que provassem que o órgão animal fosse suficiente para suprir as necessidades do meu organismo, faria o transplante”, explica Tatiane.
Segundo Mayana, os testes já foram realizados com o coração de porcos. Transplantados em macacos, os animais têm sobrevivido por meses. Além da semelhança com órgãos humanos, os porcos possuem alto índice de reprodução, têm uma gestação de menos de 4 meses e alcançam a maturidade sexual em até seis meses.
O projeto tem fase inicial de três anos. Segundo a geneticista, os transplantes em seres humanos estarão tecnicamente prontos para serem realizados após esse período, mas ainda é difícil estimar quando serão uma realidade na medicina brasileira.
“Ao invés de esperar a morte de um doador, que pode, ou não, ser compatível, o médico poderá encomendar órgãos para o paciente. A ideia é iniciar os testes com transplantes de rim em pacientes que não têm doador. ”
R7