O Campeonato Brasileiro indica uma tendência inesperada em comparação aos últimos anos. Em vez de apostar nos profissionais jovens como treinadores de seus times, os clubes estão atrás de outros perfis. Se até pouco tempo atrás os comandantes novatos eram considerados a saída para o futebol nacional evoluir, agora eles têm sido preteridos pelos mais experientes e pelos estrangeiros.
A reportagem realizou um levantamento nas edições do Brasileirão desde 2015 e avaliou todos os técnicos efetivados que comandaram as 20 equipes de cada temporada. Os profissionais foram divididos em três categorias: uma só para os estrangeiros e as outras duas voltadas para brasileiros, mas divididos entre profissionais com menos ou mais de 50 anos.
Apesar de nesta temporada 14 técnicos brasileiros que trabalharam na Série A serem da turma dos novatos, somente seis continuam, considerando-se as 21 primeiras rodadas: Fernando Diniz (São Paulo, 46 anos), Rogério Ceni (Flamengo, 47), Odair Hellmann (Fluminense, 43), Jair Ventura (Sport, 41), Maurício Barbieri (Red Bull Bragantino, 39) e Rodrigo Santana (Coritiba, 38). E há dois jovens estrangeiros: Alex Ferreira (Palmeiras, 41) e Ricardo Sá Pinto (Vasco, 48).
Neste ano os técnicos brasileiros com menos de 50 anos correspondem a 40% do total, um número menor em comparação aos 46% de 2015. Naquela época, o futebol brasileiro vivia a ressaca da Copa do Mundo 2014 e o discurso era pela necessidade de renovação dos treinadores.
“É tudo um modismo. Já houve a época dos treinadores jovens, da efetivação dos interinos, da demanda pelos experientes e agora é pelos estrangeiros. É o momento que dita a demanda do mercado”, avaliou o técnico do Atlético-GO, Marcelo Cabo, de 53 anos.
Nessas últimas temporadas, além de 2015 um outro ano apresentou elevada presença de treinadores novatos. Em 2018 a eles chegaram a corresponder por 46% de todos os profissionais. Na temporada anterior, o Corinthians de Fábio Carille (então com 44 anos) foi campeão brasileiro e logo depois outros clubes resolveram também apostar em jovens. O Atlético-MG efetivou o auxiliar Thiago Larghi, o Santos trouxe Jair Ventura, o Botafogo assinou com Alberto Valentim e o Palmeiras fechou com Roger Machado.
“O modismo acontece, e não é só no Brasil. Infelizmente o futebol é um lugar onde nem todos que estão no comando têm um entendimento mais claro do que pode ser a sua necessidade verdadeira”, disse à reportagem o técnico Alexandre Gallo, de 53 anos, que tem passagens por várias equipes e pela CBF.
Neste Brasileirão, vários clubes trocaram a juventude pela experiência na hora da crise. O Corinthians fez isso ao tirar Tiago Nunes (40) e contratar Vágner Mancini (54). O Bahia trocou Roger Machado (45) por Mano Menezes (58) e o Palmeiras afastou Vanderlei Luxemburgo (68) para a chegada do português Alex Ferreira (41).
SEM CRITÉRIO – Para Gallo, a queda na presença de técnicos jovens é reflexo da falta de planejamento e da necessidade de se dar satisfações públicas. “Não se estuda o perfil específico para cada momento que você precisa dentro da equipe. O clube só vê o momento que o técnico pretendido está vivendo em outra equipe. A gente entende como uma resposta para as mídias sociais, imprensa e torcida.”
Eduardo Baptista, de 48 anos, que dirige atualmente o Mirassol, da Série D, já teve a oportunidade de treinar times da elite, como Palmeiras, Fluminense e Athletico-PR. Na opinião dele, a escolha por quem será o treinador deveria ser mais criteriosa. “O importante quando você traz qualquer treinador é primeiro entender qual é o seu clube, entender o que você quer na competição, de que maneira vai jogar e se vai utilizar a base.”
Entre alguns clubes existe o discurso de que o ano atípico tem feito as equipes preferirem os mais experientes. A necessidade de lidar com calendário apertado e desfalques por coronavírus tem levado as diretorias a escolher nomes consagrados.
R7