Os idosos paulistanos da atual geração mostraram um aumento no número de doenças crônicas, maior difculdade e limitações para realizar tarefas básicas, como tomar banho e ir ao banheiro sozinhos, de acordo com o estudo “Saúde, bem-estar e envelhecimento” (Sabe), feito pela USP, em parceria com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas/OMS).
Os dados mostram que a população idosa, em geral, não é capaz de se vestir, andar ou comer sozinhos. Entre essa população, a tarefa básica mais difícil é a de se vestir (21,1%), seguida por levantar ou sentar sozinho (14,4%) e andar pela casa (10,7%), o que mostra que essas pessoas necessitam de ajuda para executar as atividades e precisam de cuidadores, de acordo com afirmação da coordenadora do estudo.
O Sabe realiza, desde o ano 2000, um inquérito sobre o estado de saúde e qualidade de vida dos idosos em sete cidades da Amérca Latina e Caribe que apresentaram rápido envelhecimento populacional. As metrópoles envolvidas são Bridgetown (Barbados), Buenos Aires (Argentina), São Paulo (Brasil), Santiago (Chile), Havana (Cuba), Cidade do México (México) e Montevidéu (Uruguai).
Segundo Yeda Duarte, coordenadora do estudo Sabe, pesquisadora e professora da USP, os resultados se mostraram preocupantes diante dos problemas apresentados pelos jovens idosos, ou seja, pessoas entre 60 e 64 anos. “O que mais surpreendeu foi o fato de problemas que deveriam afetar pessoas mais velhas, na faixa dos 80 anos, como não conseguir se vestir ou andar sozinhos, serem prevalentes entre os novos idosos”, afirma a pesquisadora.
“A média é de que a população, em geral, está chegando aos 60 anos com limitações, e não deveria estar fragilizada nessa idade, porque a perspectiva é que, com os anos, suas limitações vão aumentar”, explica Yeda.
No caso das atividades instrumentais, ou seja, aquelas que dão suporte para as atividades diárias, realizar tarefas domésticas pesadas foi a que apresentou maior dificuldade para essa população (32,4%), seguida pela dificuldade de usar transporte, público ou não (18,6%), e fazer compras e carregá-las, quando pesam mais de 5 kg (16,8%). “Se o idoso não consegue sair de casa e não consegue ir ao mercado, a menos que ele tenha um mercado perto de casa, ele vai optar por outros tipos de alimentos mais leves para carregar, trocando suas refeições por lanches e bolachas, o que não é saudável para sua alimentação”, diz Yeda.
Outra estatística que preocupa a pesquisadora é a dificuldade na administração de remédios (12,7%), pois, se o idoso sofre de alguma doença, a dificuldade em tratá-la agravará o estado de saúde e pode afetar sua limitação funcional, por causa da piora de suas doenças crônicas.
Essas doenças, como diabetes e câncer, mostraram um aumento significativo, se comparado com a população idosa de 2000. O diabetes, que em 2000 afetava 17,9% dos idosos, hoje atinge 24,6%, e o câncer passou de 3,3% para 7,5%.
Segundo Yeda, a hipertensão continua a ser a mais prevalente, mas a mais incapacitante é a doença articular, pois provoca dor e, assim, a pessoa limita tarefas diárias, andar ou sair de casa.
Entretanto, o aumento de doenças não necessariamente significa que houve um aumento de patologias, mas sim de diagnósticos, conforme afirma a pesquisadora. “Nós analisamos e comparamos as taxas de doenças de 2000 e 2017, e elas cresceram proporcionalmente. Mas, não significa que as doenças aumentaram. Esses idosos podem ter tido acesso ao sistema de saúde, que em 2000 eles não tinham, e receberam o diagnóstico”, completa.
Yeda afirma que, embora o estudo tenha analisado apenas uma cidade, São Paulo se compara às grandesmetrópoles do mundo, o que faz com que, em visão geral, os resultados podem retratar a situação do resto do país.
R7