Nos últimos dias, o Uruguai vem se destacando em meios de comunicação ao redor do mundo pelo sucesso no combate ao novo coronavírus, causador da covid-19. Até o momento, o país registrou 749 casos da doença e apenas 20 mortes. Apesar de não ter decretado quarentena obrigatória, o país tomou, desde muito cedo, uma série de medidas para evitar a disseminação do vírus.
O Uruguai foi apontado como um dos 46 países que estão vencendo a batalha contra o novo coronavírus. O ranking está disponível no site EndCoronavirus.org, construído e mantido pelo New England Complex Systems Institute e seus colaboradores. O presidente do instituto de investigações científicas, Yaneer Bar Yam, parabenizou o Uruguai, em sua conta no Twitter, pelo desempenho no combatre à covid-19.
A lista é elaborada de acordo com o número de casos positivos confirmados em um período de 10 dias. O Uruguai registrou, nos últimos 10 dias, entre 12 e 21 de maio, apenas 35 novos casos, uma média de 3,5 por dia.
O ranking é dividido em três classificações: os países que “estão vencendo” a doença, os que estão “quase lá” e os que “precisam de ações”. O Brasil, que, nos últimos dias somou mais de 132 mil novos casos e atingiu a média de 13,2 mil por dia, está entre os que precisam de ação.
Medidas imediatas
No dia 13 de março, foram registrados os quatro primeiros casos de contaminação pelo novo coronavírus no Uruguai. No mesmo dia, o governo anunciava a suspensão das aulas por 15 dias, começando em 16 de março. As escolas permanecem fechadas até esta sexta-feira (22), e o governo acaba de anunciar um plano de retomada gradual das aulas em três etapas, nos dias 1º, 15 e 29 de junho.
Ainda em meados de março, o governo determinou o fechamento de todos os estabelecimentos comerciais, exceto farmácias e os de venda de alimentos. Os centros comerciais anunciaram o fechamento de suas lojas por tempo indeterminado.
De acordo com especialistas, outra das ações uruguaias que ajudaram muito a conter a disseminação da doença foi a ampla testagem. O país, que tem uma população de apenas 3,5 milhões de habitantes, fez, até o momento, mais de 36.500 testes.
Fronteiras fechadas
Outra medida adotada foi fechamento total das fronteiras com a Argentina, e parcialmente com o Brasil, pela dificuldade de controle das chamadas fronteiras secas (aquelas onde não há um rio, lago ou oceano dividindo os países, em que apenas uma linha simbólica que separa os territórios). Também foi proibida a entrada no Uruguai de estrangeiros não residentes no país.
Mais recentemente, no dia 6 de maio, o presidente Luis Lacalle Pou, acompanhado por ministros, visitou cidades da fronteira para reforçar as medidas de controle, colocando autoridades sanitárias permanentemente nas zonas limítrofes, O governo desenvolveu um protocolo preventivo para proteção da população uruguaia. A preocupação era com a situação de cidades binacionais e fronteiriças onde existem casos do novo coronavírus do lado brasileiro, mas não no uruguaio.
Apesar de o Uruguai ter proibido a entrada de estrangeiros, no contexto da emergência sanitária, os residentes em localidades fronteiriças com o Brasil são exceção, pois frequentemente vivem de um lado e trabalham do outro lado da fronteira. No Chuí, por exemplo, apenas uma avenida separa o lado brasileiro do uruguaio, sendo uma única cidade, o que dificulta enormemente o controle.
A circulação de carros da polícia e helicópteros com alto-falantes, solicitando a colaboração dos cidadãos para que ficassem em suas casas e evitassem aglomerações, também fez parte das ações tomadas desde a detecção dos primeiros casos.
Ações sociais
No dia 20 de março, uma semana após a confirmação de que a vírus havia chegado ao Uruguai, Lacalle Pou um pacote de medidas para tentar amenizar os impactos econômicos, sanitários e sociais. O pacote incluiu o adiamento do pagamento de impostos e da previdência social, o aumento de linhas de crédito com juros baixos e a prorrogação da suspensão das aulas por um mês. Naquele dia, o país registrava 94 casos de contaminação pela covid-19 e nenhuma morte.
Um regime especial de seguro-desemprego também foi flexibilizado para todos os setores. Além disso, os bancos e administradores de crédito foram autorizados a adiar as parcelas de empréstimos para pessoas físicas e jurídicas.
Na semana seguinte, no dia 26 de março, o governo anunciou medidas para garantir a logística de produção e distribuição de alimentos, principalmente para os setores mais pobres da sociedade. Foram criados abrigos e reforçados planos de alimentação para pessoas em situação de rua.
Além disso, foi disponibilizado um bônus no cartão Uruguai Social (Tarjeta Uruguay Social). Esse benefício é uma transferência de renda concedida a famílias em situação de extrema vulnerabilidade socioeconômica. Os valores variam de acordo com o número de menores de idade que vivem na casa, podendo ir de 1.200 pesos (cerca de R$ 135) a 6.460 pesos (cerca de R$ 725). Os valores foram pagos em duas parcelas, uma no dia 31 de março e a outra no final de abril.
Para pequenas e médias empresas, a decisão foi aumentar os recursos do Sistema Nacional de Garantia (Siga) e também reduzir em 70% a comissão cobrada pela administração desses fundos. O Siga é uma garantia para as micro, pequenas e médias empresas que encontram obstáculos ao buscar crédito em uma instituição financeira. O instrumento tem custo por comissão de uso de 2% ao ano em pesos e 2,6% em dólares. A percentagem máxima de cobertura pode chegar a 70% do empréstimo solicitado.
Reabertura gradual
No dia 4 de maio, sete semanas após o início das restrições impostas no Uruguai, a capital, Montevidéu, iniciou o processo de retomada das atividades. As grandes lojas varejistas, principalmente de roupas e calçados, abriram as portas. Trabalhadores da construção civil e de algumas instituições públicas também voltaram ao trabalho.
A reabertura das lojas começaou com horários reduzidos (das 10h às 18h). Não há protocolo único de medidas de higiene para todos os estabelecimentos, mas o governo recomendou que as empresas respeitassem as normas do Ministério de Saúde Pública, com o uso de máscaras para todos, distanciamento físico e nada de aglomerações.
Uma das determinações do Ministério da Saúde foi o uso obrigatório de máscaras, desde o dia 24 de abril, para os trabalhadores e clientes de comércios de alimentos. No dia 27,a medida se tornou obrigatória também para estabelecimenos de serviços financeiros e pagamentos, como as lotéricas.
Pediu-se a empresas e clientes que cumprissem recomendações, como a permissão de entrada de, no máximo, 10 pessoas por estabelecimento e exigência de pelo menos 1,5 metro de distância entre elas.
Nas duas últimas semanas, já é perceptível a retomada gradual das atividades. O trânsito está mais intenso, muitas pessoas passeiam pelas ramblas (avenidas à beira do Rio da Prata) no final de tarde com algum distanciamento. Muitos estabelecimentos comerciais estão abertos.
Nas ruas, a grande maioria das pessoas usa máscaras, mas nem todos sabem como usá-las corretamente. No entanto, o trabalho ágil dos uruguaios para conter a pandemia ganhou reconhecimento internacional.
Agência Brasil