Peste negra. Varíola. Tuberculose. Gripe espanhola. Só o nome destas doenças já causa arrepios e remete a momentos da história em que fomos derrotados pelas epidemias. Elas causaram milhões de mortes, mas hoje estão controladas ou extintas. Mas será que podem voltar
Recentemente, cientistas russos fizeram um alerta: as mudanças climáticas estão derretendo uma camada de gelo na Sibéria que contém vírus nocivos, como a varíola, guardados ali há milênios. O temor surgiu depois que uma criança morreu e outras 23 pessoas foram contaminadas no norte do país por antraz, uma bactéria que estava desaparecida fazia 75 anos.
Para os pesquisadores, o ressurgimento da infecção aconteceu provavelmente porque um cadáver de rena morta por antraz há décadas foi descongelado na região.
O médico sanitarista Rodolpho Telarolli, da Faculdade de Ciências Biológicas da Unesp (Universidade Estadual Paulista), diz que a OMS (Organização Mundial de Saúde) pode avaliar melhor o risco dessas doenças voltar, mas defende que hoje existem técnicas mais eficazes para combater a varíola, por exemplo.
Para ele, muito mais perigoso é um novo vírus nascer:
Em termos de letalidade, uma nova doença, como ebola e zika, é pior. A ciência já sabe tudo sobre as velhas. Se for para acontecer algo ruim, seria uma nova doença
Além disso, temos muitas doenças “vivas”, como a gripe e a Aids, que ainda são um motivo real de preocupação.
Relembre 13 doenças temidas pela humanidade
Varíola
É considerada uma das primeiras doenças conhecidas pela humanidade. Estudos indicam sua presença em humanos há cerca de 12 mil anos e no faraó Ramsés 5º (f). Causada por vírus e transmitida pelo ar ou por itens contaminados, tem sintomas parecidos com os da gripe, com acréscimo de dores musculares, vômitos violentos e pústulas na pele. Ficou ainda mais perigosa com a urbanização: no século 18, matou 400 mil europeus; e no século 20, 300 a 500 milhões no mundo todo. Após campanhas de vacinação, foi considerada erradicada em 1979.
Gripe (sazonal, espanhola, aviária, asiática…)
A gripe matou e continua a matar muita gente, apesar das vacinas. O vírus já foi responsável por várias epidemias ao longo da história, sendo a mais grave a da “gripe espanhola”, com 50 a 100 milhões de mortes entre 1918 e 1919. Surtos de gripe asiática no fim da década de 50 mataram mais de um milhão de pessoas. Em 2009, veio o H1N1. Até a gripe comum ainda mata muita gente todos os anos. Os sintomas incluem febre, coriza, tosse, dor de garganta e cabeça. A transmissão ocorre pelo ar e por itens contaminados.
Peste negra
Uma das doenças mais mortais da humanidade, transmitida por roedores. Acredita-se que a devastadora pandemia da Idade Média matou de 75 a 100 milhões de pessoas. Pelo menos um terço da Europa morreu por causa da praga. Apesar do ápice no século 14, a doença foi recorrente na Europa nos séculos seguintes e foi um dos combustíveis para a Renascença. Atualmente, surge ocasionalmente em algumas partes do mundo, mas é controlada por antibióticos e inseticidas contra ratos. No entanto, o risco de a bactéria causadora sofrer uma mutação e ficar resistente aos remédios existe. Entre os sintomas estão: febre alta, mal estar e manchas pretas na pele (deram origem ao nome da doença).
Tuberculose
A tuberculose também é bem antiga, com vestígios em corpos de milhares de anos. O maior surto ocorreu nos séculos 19 e 20, quando até 25% das mortes na Europa eram por causa da doença. Em 1993, houve um novo surto. Em 2014, foram 1,1 milhão de óbitos em países subdesenvolvidos. Causada por bactéria, ela afeta o pulmão. Os sintomas são tosse, febre baixa, cansaço, rouquidão e, em casos graves, dificuldade na respiração e eliminação de grande quantidade de sangue.
Aids
Desde o início da epidemia, na década de 80, 35 milhões de pessoas morreram por causa do HIV. A Aids ainda é um caso de saúde pública não resolvido e recebe esforços mundiais para combate-la. A transmissão ocorre por relação sexual e contato com sangue infectado. Nos últimos anos, o número de novos casos tem aumentado em alguns países, inclusive o Brasil.
Cólera
O cólera é uma doença associada à falta de saneamento básico. Transmitida por água e comida, a bactéria causa diarreia, vômitos, desidratação e falência dos rins. Na história, matou um número difícil de estimar, mas na casa de milhões. Normalmente, ocorre atrelada a pandemias –teria matado mais de um milhão de pessoas na Rússia entre 1852 e 1860 e mais de 800 mil na Europa, Ásia e África no início do século 20. A cólera ainda está por aí. “No Brasil tivemos cólera faz 20 anos e depois foi erradicada. Mas no Haiti, depois do terremoto, o cólera ficou endêmico. Ele acompanha a pobreza, falta de saneamento”, explica Telarolli.
Tifo
O tifo, causado por bactéria, teve vários surtos ao longo da história. Na Grécia antiga, matou até 100 mil pessoas em Atenas. No século 17, 10% da população da Alemanha morreu em um surto. Já no século 19 matou na Irlanda na casa de centenas de milhares em um curto período de tempo. No século 20, atingiu a Rússia e deixou 3 milhões de mortos durante a Guerra Civil. Os sintomas variam de acordo com a bactéria causadora, mas envolvem dor de cabeça, febre, náusea, diarreia, dores pelo corpo, vômito, entre outros. A transmissão ocorre por piolhos que normalmente parasitam animais, mas que também contaminam o homem. A doença também está atrelada à falta de saneamento.
Febre amarela
A febre amarela ainda é uma doença recorrente. Transmitida pelo mosquito Aedes, o vírus infecta 200 mil pessoas por ano e mata cerca de 30 mil, a maioria na África. No século 19, matou mais de 100 mil pessoas nos Estados Unidos. Hoje, há vacina. Os sintomas costumam ser fracos e semelhantes aos da gripe. Na forma mais grave, resulta em insuficiências hepática e renal, olhos e pele amarelados e hemorragias. “Araraquara (SP), por exemplo, perdeu 40% da população entre 1892 e 1899”, diz o sanitarista.
Ebola
Apesar do temor em torno da doença e da alta taxa de mortalidade do vírus, ele ainda não se espalhou pelo mundo. “É um vírus burro, porque ele mata muito. As epidemias são auto-limitadas, porque nos vilarejos afastados da África ele chega a matar 90% e esgota a população. A doença acaba não causando grandes epidemias”, afirma Telarolli. O maior surto da doença, o mais recente, matou 11 mil pessoas entre 2013 e 2016. Mas há o temor de mutações do vírus.
Sarampo
O sarampo ainda é muito relevante e já causou 200 milhões de mortes entre 1855 e 2005. Não costuma causar epidemias mortais, mas no Haiti matou 20% da população em 1850; e em Fiji, 40 mil em 1875. Na década de 80, foram 2,6 milhões de mortes por ano. Em 201, a vacinação fez baixar as mortes para 114 mil. A doença é causada por um vírus, transmitido entre humanos por objetos contaminados. Os sintomas são parecidos com os da gripe, também com erupções ou manchas vermelhas no corpo.
Malária
Transmitido por mosquitos e animais, o parasita causador da malária foi responsável por 438 mil mortes em 2015, 90% delas na África. A doença é associada à pobreza. A OMS estima que em 2000 a doença chego a causar 839 mil mortes. Entre os sintomas estão febre, vômito, diarreia e dor no abdômen e músculos, sendo que um sintoma clássico é a ocorrência de uma sensação súbita de frio intensa seguida por calafrios.
Raiva
Apesar de rara, é mortal na maioria dos casos. O vírus é transmitido por mordidas ou arranhões de animais infectados (em 99% das vezes por cachorros). A vacinação humana e animal é fundamental na prevenção. Lavar o ferimento logo após a mordida também pode ajudar a salvar vidas. A doença afeta o sistema nervoso e causa dezenas de milhares de mortes todos os anos, a maioria (95%) na Ásia e na África. Entre os sintomas da doença estão febre, dores pelo corpo, sensações de formigamento e queimação, medo de água, inflamação do cérebro, hiperatividade e outros.
Poliomielite
A poliomielite não causa mais mortes, mas já foi a responsável por inúmeros casos de paralisia infantil. A doença viral é transmitida de pessoa para pessoa e 90% das infecções são assintomáticas. Em 1% dos casos, o vírus alcança o sistema nervoso central e destrói neurônios motores. A vacina surgiu na década de 50, quando os casos diminuíram de 350 mil em 1988 para apenas 74 em 2015, segundo a OMS.