O sonho de todo músico baiano está perto de se tornar realidade para 36 artistas. A Gravadora WR, do pioneiro Wesley Rangel, vai gravar e mixar os trabalhos de bandas e cantores da nova cena musical baiana, dentro da proposta “WR de Portas Abertas”, selecionada no Edital Setorial de Música 2017, do Fundo de Cultura da Bahia (Secretarias da Cultura e da Fazenda). Os estúdios receberam e formaram ícones da música baiana, brasileira e internacional como Chiclete com Banana, Cláudia Leitte, Ivete Sangalo, Olodum, Daniela Mercury, Timbalada, É o Tchan!, Marisa Monte, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Gal Costa, Paul Simon e dezenas de outros.
O processo de seleção dos artistas usou como base o Mapa Musical da Bahia, organizado pela Fundação Cultural do Estado, sendo que mais de 300 músicos dos mais diversos estilos se inscreveram imaginando ter um dos seus trabalhos gravado e mixado com o selo de qualidade da gravadora que fez história na música baiana na década de 1980. Os artistas contemplados participaram da primeira reunião logo após o Carnaval, já agendando sua presença em estúdio. Cada selecionado terá direito a 14 horas de trabalho e ao final receberá os arquivos originais e também mixados e masterizados.
Aline Rangel, responsável pelo projeto, conta que a ideia foi dar oportunidade aos artistas emergentes da cena local de gravar em estúdio profissional, dando continuidade ao pioneirismo do seu pai, Wesley Rangel, morto em 2016, que fez história abrindo o caminho para músicos baianos que se consagraram e consolidaram no mercado nacional. “Tem gente nova, outros já com estrada, mas o critério utilizado foi selecionar artistas que não tivessem passado por estúdios profissionais. Foram identificados 36 bandas e cantores com trabalhos diversificados, estilos diferentes. Como resultado, eles terão em mãos um material de trabalho para usar a vontade”.
Segundo ela, a gravação em estúdio é muito cara e se torna inviável para muitos artistas que estão iniciando carreira. “De repente despontam aqui nomes que podem se consagrar no cenário nacional. É a continuação do sonho do meu pai”. A presidente da Fundação Cultural do Estado (Funceb), Fernanda Tourinho, ficou empolgada com a utilização do projeto Mapa da Música, pensado justamente para promover a integração entre os artistas de toda a Bahia. “A articulação de iniciativas como esta, da WR, com o Mapa Musical, está rendendo este primeiro fruto e pode ir mais além, já que o cadastro pode refletir o que fazem os artistas de 417 municípios baianos; servir como instrumento de políticas públicas e para a implementação de projetos, alcançando, com seu potencial, os 27 territórios do estado”.
Da mesma forma, o superintendente de Promoção Cultural da SecultBA, Alexandre Simões, destacou a proposta que tem o apoio do Fundo de Cultura da Bahia. “Desde 2007 que o FCB tem sido ferramenta importante para fomentar a cultura no estado, apoiando iniciativas simples e de qualidade como esta. O início de uma carreira na área musical é sempre difícil e o objetivo dessa proposta é justamente auxiliar a músicos já com estrada a ter em mãos uma gravação de excelente qualidade fonográfica que certamente vai ‘abrir as portas’ em rádios e outras gravadoras. É também uma forma de girar e retroalimentar a cadeia produtiva da música, que é um campo de trabalho real no Estado. O FCB está apoiando quase 300 projetos na Bahia, sendo que os valores já foram repassados, garantindo aos produtores tranqüilidade em tocar os seus projetos”.
Do rock ao baião
O proponente Nairo Elo, vice-presidente do Instituto WR, não descarta a possibilidade de as gravações renderem a organização de uma coletânea com o material que for gerado. Segundo ele, um dos objetivos é justamente traçar um panorama do cenário emergente da música baiana. “Temos artistas aqui dos mais diversos segmentos, do rock, ao eletrônico, samba, rap, um pouco de tudo que se produz no cenário local”.
O baixista da banda de rock gótico industrial Desrroche, Ninovisk, está empolgado com a possibilidade de voltar a estúdio, dessa feita com a qualidade da WR para regravar a música “Caixa de Segredo” e comemorar em alto estilo os 15 anos de estrada da banda. “Já lançamos dois discos simples e é a oportunidade de atualizar nosso trabalho e termos em mãos uma faixa de qualidade. Somos uma banda que faz rock autoral cantado em português”.
Também da cena rock baiana, a banda Os informais já está agendada para entrar em estúdio e aproveitar as 14 horas disponíveis para preparar material de qualidade. Os músicos Mario Borba e Elton Cardoso revelaram já ter lançado dois EP’s, mas que agora sonham trabalhar nos estúdios consagrados da WR. “Estamos num momento de expansão do trabalho. Tocamos no Furdunço de Salvador e no palco do Rock e a faixa permitirá viagens maiores e um cartão de visitas”.
Santo7, que faz um trabalho regional com xote, xaxado, baião, mesclando com música eletrônica, mas “mantendo a zabumba como carro chefe”, também está exultante em adentrar um estúdio profissional após cinco anos de estrada. “É o diferencial que nós queremos”, diz. Flertando entre a MPB e a música eletrônica, Neila Kadhi aposta no resultado final da gravação e espera que a faixa seja um divisor de águas na sua carreira. “É a oportunidade de beber na melhor fonte da música baiana, conhecer as rotinas de um estúdio de qualidade, sentir um pouco da história”. Ela tem shows marcados esse mês no Circo Voador, no Rio de Janeiro e já está agendada para mergulhar no estúdio WR.