Em plena campanha pela sucessão, mas ainda nos bastidores, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, enfrenta dois grandes obstáculos: um Ministério Público dividido e a posição, sinalizada pelo presidente Bolsonaro, de que pode não respeitar a lista tríplice na indicação para a sucessão, em setembro.
O mandato de procurador-geral da República dura dois anos. Desde a redemocratização, todos os chefes do Ministério Público Federal foram reconduzidos ao cargo. Se ficar de fora, Dodge será a primeira em três décadas e meia a não completar um duplo mandato.
O Ministério Público Federal está divido em quatro grande “alas”, o que se reflete na sucessão. A que apoia Dodge, a que apoia José Robalinho (presidente da Associção Nacional dos Procuradores da República), a ala pró-Janot e a ala Lava-Jato. A votação para a lista tríplice ainda não tem candidaturas abertas, mas intensa movimentação.
As restrições internas a Dodge são motivadas, principalmente, pela sensação de que ela não tem atendido a todos os interesses da classe, o que seria um potencial de Robalinho, por estar à frente da associação dos procuradores.
A ala pró-Janot se movimentava em torno do nome de Nicolao Dino, ex-vice PGR e que ficou em primeiro lugar na lista tríplice de dois anos atrás, mas foi preterido por Temer, possivelmente pelas investigações comandadas por Janot (na direção de Temer e aliados). Dino, no entanto, após a sinalização de Bolsonaro de que não deve respeitar a lista tríplice, desistiu de concorrer no início da semana.
Sua desistência deve causar uma migração de potenciais votos para o candidato da quarta ala da PGR, a da Lava-Jato. Nos bastidores, o nome dos procuradores pró-operação, que têm a preferência e apoio do ministro da Justiça Sérgio Moro, era o de Deltan Dallagnol. O nome de Dallagnol vinha sendo trabalhado por Moro discretamente, mas a possível candidatura perdeu força após a corregedoria da PGR abrir um procedimento para analisar a tentativa de criação um fundo de R$ 2,5 bilhões de multas pagas pela Petrobras e após a instauração pelo Conselho Nacional do Ministério Público de um processo administrativo disciplinar contra o procurador por quebra de decoro ao falar em entrevista que três ministros do STF “mandam uma mensagem muito forte de leniência a favor da corrupção” e formam uma “panelinha”.
Bolsonaro não deve indicar Raquel Dodge, mesmo que ela esteja na lista tríplice, a lista dos mais votados pelos procuradores, porque teria preferência por um militar. O mais cotado é o chefe de procuradoria militar, Jaime de Cássio Miranda. Além da preferência por um militar, é importante lembrar que Dodge denunciou Bolsonaro por crime de racismo.
Outro nome que corre por fora e que está buscando apoio do ministro da Secretaria de Governo Santos Cruz é o o subprocurador da República Augusto Aras, crítico voraz de Raquel Dodge.
Caso o nome de Dodge realmente perca força, o vice dela, Luciano Mariz, pode ser uma alternativa.
R7