Um início cheio de luta e sacrifício, o sonho sendo realizado e desfrutado até um empecilho dos grandes aparecer. É um pouco do resumo do lateral-esquerdo Breno Lopes, que anuncia nesta segunda-feira sua aposentadoria dos gramados. Aos 35 anos, revelado pelo Brasília, acumulou outros doze clubes no currículo. Foi campeão brasileiro no Cruzeiro, jogou ao lado de Ronaldinho Gaúcho no Fluminense e foi capitão em alguns clubes até descobrir um câncer, fazer o tratamento longo, ser curado, mas ter que finalizar sua participação dentro do campo – realizando seu último jogo em junho de 2024, somando mais de 200 partidas como profissional. Em carta, Breno Lopes destrincha sua carreira, celebra o sonho realizado, fala do câncer e faz agradecimentos.
“É engraçado que até hoje eu lembro de muitos detalhes lá bem do início do meu sonho no futebol. Era criança ainda e me recordo do meu pai, ligando pra muita gente, incomodando, perguntando se eu não podia ir fazer teste no clube, falando que eu era bom, que minha perna esquerda tinha talento. Era sempre assim, ele correndo atrás de qualquer chance de eu ser visto. Foram várias vezes que ele enfim conseguia um teste e lembro que a gente ia de caminhão. Meu pai pedia carona e ia eu e ele de caminhão. Várias e várias vezes fizemos isso, acho que por isso é tão vivo ainda na memória, era uma coisa frequente. Até que um dia a gente foi aprovado, deu certo, e a gente enfim pôde começar a realizar esse sonho que era jogar e viver do futebol.
Tenho orgulho de ter aproveitado ao máximo tudo que o futebol me proporcionou. Foi espetacular realizar meu grande sonho, do meu pai, da minha mãe. Foram mais de 200 jogos como profissional, pude ser campeão brasileiro, jogar em clubes que nunca imaginaria jogar e defender. Vivi tanta coisa boa disso que um dia era apenas sonho. Agradeço a todos os clubes que passei, todas as comissões, os atletas, todos os amigos cultivados durante quase 20 anos. Minha família foi essencial em tudo na minha vida. Minha esposa e minha filha foram cruciais na batalha contra o câncer. Passei por coisas que não imaginava que um ser humano pudesse passar, mas infelizmente acontecem. Tive que ter muita força, muita fé, e grande parte disso veio da minha família, minha esposa e filha que amo, meus pais, amigos, enfim, não foi nem um pouco fácil, foi dolorido, foi um processo longo e duvidoso. Estou enfim curado, já faço os cursos da CBF há alguns meses e venho me apaixonando mais uma vez pelo futebol, mesmo que agora fora de campo. Agradeço a Deus por estar curado e seguindo minha vida ainda no futebol, minha paixão, mas é com o coração cheio de agradecimentos que encerro oficialmente a minha carreira.
Agradeço Alberto Lopes, meu pai, e Cida Lopes, minha mãe. Minha amada esposa Sabrina Lopes e minha linda filha Luna Maria Lopes. Aproveito para agradecer também minha tia Davina, onde eu ficava para fazer os testes em Belo Horizonte. Agradecer ao meu empresário Fábio Baitler, que me ajudou além da luta contra o cancêr também no problema cardíaco que tive. Ele foi extremamente amigo e generoso comigo. Agradecer Sargento Célio e pessoal do Naza, o Marcelo treinador. Agradecer ao Paulão e os funcionários pelas caronas no caminhão para os testes. Dasy Brandino e Rafa Brandino, agentes que também foram de suma importância na minha carreira no futebol. Ao Pedro Ayub, ex-atleta profissional, que foi essencial no meu início. Agradecer ao Professor Time Grande, que tinha um restaurante em Brasília, me oferecia as refeições e fazia até feira pois sabia da situação financeira complicada da minha família. E para finalizar agradecer todos os médicos e enfermeiros que me ajudaram e a todos que fizeram parte da minha carreira.