Os estudantes da Educação de Jovens e Adultos (EJA) da rede estadual de ensino estão envolvidos, até esta sexta-feira (10), com as provas do Sistema de Avaliação Baiano da Educação (SABE). No Colégio Estadual Professor Rômulo Almeida, no bairro do Imbuí, em Salvador, por exemplo, os alunos da EJA fizeram a avaliação externa estadual, nessa quarta (8). No pátio da escola, antes do início dos exames, os participantes se mostravam preparados e conscientes sobre a importância do SABE, uma iniciativa da Secretaria da Educação do Estado (SEC) com a finalidade de avaliar e agir cada vez mais em favor de uma educação mais justa, equitativa e transformadora, bem como contribuir com a preparação para o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), em novembro.
Denise Silva Oliveira de Jesus, 50 anos, costureira e estudante da EJA, era uma das mais entusiasmadas para as provas do SABE. “Considero muito importante fazer essas avaliações do Estado, porque quero testar meus conhecimentos, já que pretendo alcançar uma faculdade para cursar Licenciatura em Matemática. Já é uma forma de pensar nos assuntos que deverão cair na prova do ENEM, de ver as dúvidas e, assim, poder reforçar os estudos”, disse. Animada, bem falante e focada, contou, ainda, que ela é quem mais incentiva sua turma a “seguir os estudos como uma missão”.
Sua história de vida, aliás, é a prova do quanto a educação escolar é capaz de transformar vidas. “Eu tive que parar de estudar quando iria passar para a 3ª série do Ensino Médio. Por incentivo da minha filha Raquel, que também estuda no Rômulo, junto à minha outra filha Ruth, me matriculei na EJA. Inicialmente, achei que poderia ser uma mera ocupação para a cabeça. Mas, ao ter contato com a sala de aula, minha mente se abriu e, a cada dia de EJA, fui sentindo mais vontade de estudar. O desânimo por achar que já tinha passado o meu tempo de estudar e o receio de não ser bem recebida pelos colegas mais jovens caíram por terra”, narrou. De imediato, ganhou o coração dos colegas, que a têm como “mãe, amiga, conselheira e incentivadora”, e passou a ser conhecida em toda a escola pelo seu empenho em ajudar a todos.
“Estou me sentindo cada vez mais jovem, alegre, positiva. Tudo que me aconteceu nesta escola foi mais que uma superação. Ontem, peguei meu boletim e não é que tirei nota máxima em todas as matérias? A troca que a gente tem com os professores, os aconselhamentos que recebemos, o olho no olho, o incentivo e acolhimento dos professores, gestores e a minha própria determinação foram e continuam sendo fundamentais para o meu progresso”, relatou, acrescentando que a EJA foi um divisor de água na sua vida, principalmente por conta do seu histórico de depressão, ansiedade e frustração.
O colega Lucas Santos também estava com expectativas positivas para a prova do SABE, apostando na ferramenta como um importante teste de conhecimentos para o ENEM. “Como pretendo entrar na universidade e cursar Engenharia, estou muito interessado nos estudos. E as provas do SABE é uma oportunidade muito boa para eu testar o que já sei e o que preciso me preparar mais. Estou aqui, na escola todos os dias, não falto. Mesmo trabalhando o dia todo em uma loja de material de construção, eu me esforço porque é com batalha que a gente que quer alguma melhora na vida vai conseguir. Não importa a dificuldade, o importante é a gente poder lutar para isso. Para conquistar os nossos sonhos, temos que abraçar as oportunidades”, disse.
Firmes e fortes
De acordo com a diretora interina do Rômulo Almeida, Cristiane Nunes, a unidade escolar, este ano, tem 160 estudantes matriculados na EJA 7, que corresponde às turmas da 3ª série do Ensino Médio aptas a fazerem as provas do SABE. No total, o colégio tem oito turmas da EJA, somando 320 alunos. “No noturno, temos um público, em sua maioria, formado por pessoas que estão no mercado do trabalho e são pais e mães que precisam prover a família. Para eles, a luta é ainda maior, depois de um dia laboral exaustivo, o cansaço é grande. Mas eles estão aqui, firmes e fortes, prontos para as provas do SABE”, avaliou a gestora, contando que os professores e coordenadores pedagógicos desenvolveram um trabalho com os alunos do EJA 7, por três semanas, para que eles entendessem a importância da avaliação.
“E hoje (quarta à noite) foi um momento especial, porque o recebemos para o jantar com uma lasanha suculenta e farta, como aconteceu durante o dia com os estudantes que também fizeram as provas. A lasanha acabou ficando extensiva aos alunos da EJA 6 e do curso técnico subsequente”, disse Cristiane, ressaltando que nas turmas regulares da 3ª série, no diurno, contabilizou-se 100% de adesão às provas do SABE, realizadas também na quarta. “Na próxima semana, os alunos do EJA 7 vão ganhar uma sessão de cinema, com direito à pipoca e ao refrigerante, com ida de ônibus saindo da escola”, acrescentou.
Habilidades e competências
As provas do SABE são produzidas e aplicadas em escolas das redes estadual e municipais da Bahia por instituições ou equipes técnicas especializadas e têm como objetivo verificar o domínio das habilidades e competências em Língua Portuguesa e Matemática. Os alunos do 5º e 9º ano do Ensino Fundamental e da 3ª série do Ensino Médio (para todas as escolas públicas municipais e estaduais); e Educação de Jovens e Adultos (EJA) – Etapa 7 (para as escolas estaduais situadas nas cidades-sede dos Núcleos Territoriais de Educação – NTEs). Já entre os dias 10 e 14 de novembro, será a vez dos estudantes do 2º ano do Ensino Fundamental de todas as escolas públicas municipais responderem à avaliação do SABE.
Tanto o SABE, como o SAEB (Sistema de Avaliação da Educação Básica) – que é a avaliação nacional para as mesmas séries e cujas provas acontecem de 20 a 31 de outubro – oferecem dados importantes para o diagnóstico da qualidade da área da Educação, permitindo identificar avanços, desafios, lacunas de aprendizagem e desigualdades. De acordo com a SEC, os resultados desses instrumentos possibilitam a orientação de políticas públicas, práticas pedagógicas e ações de formação para melhorar o ensino e garantir o direito à aprendizagem de todos os estudantes.