Salvador, 7 de dezembro de 2025
Editor: Chico Araújo

Chegada do inverno reprime economia brasileira em R$ 50 milhões, enquanto inflação global mantém preços estáveis

 

O Banco Central Europeu acaba de divulgar o 2º relatório de ‘Projeções Macroeconômicas’ do mês de junho. Apesar das tensões comerciais internacionais, impulsionadas pelos conflitos na Europa, Oriente Médio e o ‘tarifaço’ de Donald Trump, a inflação global – medida pelo Índice Harmonizado de Preços ao Consumidor (IHPC) da zona euro – deve permanecer abaixo de 2% no curto prazo.

 

Em virtude da baixa projeção na inflação, os consumidores poderão aproveitar os ânimos do mercado internacional, se beneficiando de preços estáveis e, consequentemente, maior poder de compra. Em contrapartida, a mudança de estação no Hemisfério Sul à partir desta sexta, 20, deve provocar uma retração econômica inesperada no varejo brasileiro, avaliada negativamente em R$ 50 milhões, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

 

As estimativas da CNC levam em consideração a elevação de até 2ºC acima da média histórica no Brasil, impactando diretamente o segmento de vestuário, calçados e acessórios. Embora as expectativas internacionais, relacionadas à economia, estejam positivas, o comércio nacional pode não ver os frutos da inflação por agora. Ainda segundo a CNC, o endividamento familiar figura acima dos 50% da renda em 2025, sendo mais um agravante para os comerciantes.

 

O fim das expectativas para o aquecimento das vendas no inverno impacta microempreendedores de todo Brasil, sobretudo nas regiões Sul e Sudeste. De acordo com a empresária e fundadora da Afrocentrados Conceito, Cynthia Paixão, a estagnação dos comércios acompanha o endividamento familiar, que embora tenha oscilado desde o ano passado, voltou à subir exponencialmente no primeiro trimestre de 2025.

 

“A chegada do inverno geralmente marca um ponto de atenção tênue. Ou teremos um aquecimento varejista ou uma retração, e a oscilação econômica varia de acordo com a região brasileira que o comerciante estará inserido. Apesar das projeções do BCE terem animado os mercados, a chegada da nova estação deixou as marcas em dúvida, sobretudo as marcas geridas por pessoas negras no Brasil. Isso porquê os empreendedores negros tem mais dificuldade de acesso ao crédito e financiamento. Atrelado à isso também temos o endividamento familiar e a queda de vendas no inverno, que impactará o fluxo de caixa”, explica a empresária.

 

Os insights da especialista levam em consideração o percentual de 35% dos empresários negros que possuem dívidas e empréstimos atrasados, enquanto a estimativa ronda em 27% entre ‘brancos’, segundo levantamento do Sebrae e FGV. Instalados em setores mais suscetíveis à sazonalidade, Cynthia explica que o empreendedorismo negro sofre diretamente com as projeções setoriais, a exemplo do setor de vestuário, que já vem de alta inflacionária de 2024 para 2025.

E não para por aí. À frente de empresas majoritariamente de micro e pequeno porte, Cynthia relata que a informalidade dos comércios negros e a alocação dos espaços em áreas com baixa infraestrutura contribuem como agravantes na chegada do inverno. Ocupando a 3º posição entre as dez principais indústrias do afroempreendedorismo, segundo a pesquisa ‘Afroempreendedorismo Brasil’, o setor varejista negro deve sofrer com a chegada do inverno pela marcante atuação voltada ao B2C – Business to Consumer (da empresa para o consumidor).

“A pesquisa do Movimento Black Money encabeçou insights da década que se perpetuam até hoje. Não é atoa que o varejista negro, hoje, sofra mais com as projeções mercadológicas, visto que 52% deles atuam com vendas da empresa para o consumidor (B2C). Como o inverno estabelece uma nova dinâmica entre consumidores finais e empresas, precisamos voltar às estratégias para não depender da sazonalidade. É preciso preparar o negócio para atravessar o período de retração com planejamento, criatividade e entendimento profundo do seu público”, aconselha.

À frente das iniciativas ‘Ayô Circuito AfroColab’, ‘Afrodonas’ e a mais recente ‘VilaAfroJunina’, Cynthia figura entre as empresárias que estão ressignificando a cena empresarial negra no Brasil. Auxiliando no desenvolvimento de outras 100 empreendedoras negras, com mentorias, marketing digital e design de produtos, a empresária aconselha que esses comércios reforcem parcerias comunitárias, otimizem canais digitais e mapeiem produtos com maior saída no frio e adaptem ofertas rápidas com base na pesquisa de mercado. Além disso, Cynthia sugere trabalhar com pré-vendas e pagamentos antecipados com benefícios, aliviando a pressão do fluxo de caixa.

 

“Não dá pra investir em estoque alto esperando que o cliente apareça. O caminho é trabalhar com pré-venda, escuta ativa e oferta segmentada. Venda o que o seu público precisa agora, atento às especificações das microrregiões. Use o WhatsApp como canal principal, com atendimento que seja pessoal e direto. E mais do que isso, junte forças com outros negócios, crie ações em collab, compartilhe espaços criativos, logística e até audiência. A resposta para a crise está na inteligência coletiva e na adaptação rápida, não em esperar o mercado melhorar sozinho”, conclui.

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