A ceratopigmentação, técnica cirúrgica responsável por alterar a cor da córnea por meio da pigmentação, virou palco de discussão nos últimos meses após influenciadores exibirem os resultados nas redes sociais. No entanto, a prática pode apresentar diversos riscos.
O oftalmologista Eduardo Nery, da Hapvida, explica que procedimentos oftalmológicos do tipo são recomendados em situações muito específicas. “As indicações são restritas e se aplicam, por exemplo, a casos de aniridia, uma condição rara em que a íris está ausente total ou parcialmente. Também podem ser consideradas em outras situações nas quais há falta de pigmento na íris, cicatrizes na córnea que afetam a visão ou ainda alterações estéticas que impactem diretamente o bem-estar e a qualidade de vida do paciente”, pontua.
Nery também chama atenção para alguns fatores que podem tornar o procedimento arriscado. Segundo ele, quem já tem problemas nos olhos, glaucoma, ceratocone ou infecções ativas deve redobrar os cuidados. Doenças autoimunes, como lúpus ou artrite reumatoide, também podem aumentar o risco.
Além disso, pessoas com alergia a componentes do pigmento ou que já tiveram reações adversas a procedimentos nos olhos precisam ser avaliadas com muita atenção. “Se houver cicatrizes ou alterações na córnea, o procedimento pode até ser contraindicado”, alerta o especialista.
De acordo com o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), a realização do procedimento – com finalidade estética – é proibida no Brasil, sendo indicado para fins reconstrutivos, com foco no bem-estar psicossocial de pessoas com deficiência visual permanente. Os principais riscos enfrentados pelas pessoas que se submetem à técnica passam desde infecções até redução da visão periférica.
“As principais complicações imediatas incluem infecções, que podem ocorrer devido à introdução de agentes patogênicos durante o procedimento, e inflamação, que pode resultar de reações do tecido ocular, além das complicações tardias que podem incluir a migração do pigmento, levando à descoloração ou ao surgimento de manchas indesejadas na córnea, bem como opacificação corneana que pode afetar a visão. Há ainda outros riscos como a formação de cicatrizes e alterações na pressão intraocular”, afirma.
A recuperação cirúrgica, quando não é bem feita, pode levar, ainda, o paciente ao desenvolvimento de úlceras.