O Programa Educaê – Juntos por uma Nova Educação, desenvolvido em Coração de Maria pelo Instituto de Saúde e Educação do Nordeste (ISEN) em parceria com a prefeitura, tem se consolidado como uma estratégia essencial de prevenção em saúde mental entre estudantes da rede pública. A iniciativa alia formação de professores, oficinas para alunos e ações com as famílias, criando um ambiente escolar que ajuda a prevenir quadros de depressão, automutilação e até suicídios. Em 2025, já foram realizadas 55 atividades, alcançando cerca de 1.800 participações de crianças com até 12 anos de idade.
A psicóloga Clafylla Luiza, que integra a equipe do programa, explica que a proposta vai além do espaço escolar: “Família e escola são instituições que precisam caminhar juntas. Quando há diálogo e objetivos compartilhados, garantimos um ambiente saudável e seguro para as crianças. O cuidado integral passa pelo afeto, limites, escuta ativa e valorização da diversidade.”
Esse trabalho já apresenta resultados visíveis. Professores relatam maior abertura para lidar com temas delicados e percebem transformações nas relações entre colegas. Pais também destacam os benefícios. Aldinélia de Jesus Silva, mãe de um estudante da rede municipal com transtorno mental, afirma que o apoio recebido mudou a rotina da família:
“Depois do diagnóstico, com o tratamento e o apoio da escola, meu filho hoje tem mais equilíbrio. As oficinas que envolvem família, escola e criança trazem conforto e segurança, principalmente para nós, mães atípicas. Percebo que meu filho é incluído em tudo.”
A coordenadora da Escola Municipal David Mendes Pereira, Jussara Soares do Couto Silva de Jesus, confirma: “As ações do Educaê têm sido fundamentais para o desenvolvimento socioemocional de alunos e professores. Já vimos melhorias em situações de bullying e maior interesse dos estudantes nas atividades.”
Escola como espaço de vida
Para enfrentar esse desafio, o Educaê promove oficinas e palestras durante todo o ano, incluindo atividades no Setembro Amarelo, com rodas de conversa sobre saúde mental, prevenção ao abuso, bullying e fortalecimento de vínculos. A proposta dialoga com a BNCC (Base Nacional Comum Curricular), que prioriza o desenvolvimento integral dos estudantes.
A professora Ana Nascimento, doutora em Fisiologia Humana pela Universidad de Valencia e especialista em Neurociências pela USP, reforça a importância da formação docente:
“Transformar a escola em um espaço acolhedor e eficaz para todos os alunos depende de ferramentas e estratégias inclusivas. Comunicação Alternativa, rotinas previsíveis, ambientes adaptados e reforço de comportamentos positivos fazem a diferença no dia a dia.”
A psicóloga Clafylla Luiza resume o espírito do projeto: “Cuidar de uma criança é tarefa compartilhada. Quando trabalhamos juntos, formamos mais que bons estudantes: formamos seres humanos íntegros e empáticos.”
Os dados nacionais mostram que a prevenção não pode esperar. Projetos como o Educaê reforçam que a escola é lugar de vida — investir em saúde mental é também investir em desempenho escolar, redução de conflitos e fortalecimento da comunidade.
Cenário nacional preocupante
A importância de iniciativas como o Educaê ganha força diante de dados alarmantes. Entre 2000 e 2022, a taxa de suicídio entre adolescentes brasileiros cresceu 120%, com destaque para a faixa de 10 a 14 anos, na qual a alta chegou a 140%, segundo análise do Ministério da Saúde e da Fiocruz. Em 2023, o Sistema Único de Saúde registrou 11.502 internações por automutilação e tentativas de suicídio — uma média de 31 por dia.
Serviço
O CVV (Centro de Valorização da Vida) oferece apoio emocional e prevenção do suicídio. O atendimento é gratuito, sigiloso e funciona 24 horas por dia pelo telefone 188 ou pelo site www.cvv.org.br