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David Sadigursky destaca cuidados essenciais para que corredores cheguem às provas com bom desempenho e sem dor
As corridas de rua seguem em expansão no Brasil: só em 2024, segundo a Confederação Brasileira de Atletismo, mais de 4 milhões de pessoas participaram de provas oficiais em todo o país. Democrática e acessível, a corrida é uma das atividades físicas mais praticadas no mundo, trazendo benefícios expressivos para a saúde cardiovascular, mental e metabólica. Ela ajuda a controlar o peso, previne doenças crônicas como diabetes e hipertensão, e ainda promove bem-estar e alívio do estresse.
No entanto, para aproveitar todos esses benefícios, é preciso planejamento. De acordo com o ortopedista Dr. David Sadigursky, especialista em joelho e trauma do esporte, as lesões em corredores acontecem, na maioria das vezes, por falhas na preparação. “Síndrome do estresse tibial, tendinites, dor anterior no joelho – conhecida popularmente como condromalacia – e até fraturas por estresse são frequentes em quem aumenta a quilometragem sem progressão adequada ou negligencia no fortalecimento muscular. O problema não é correr, mas correr sem preparo”, alerta.
De acordo com o médico, alguns erros são recorrentes e aumentam significativamente o risco de lesões. Entre eles estão iniciar treinos sem avaliação médica, aumentar a quilometragem ou a intensidade de forma brusca, usar tênis inadequado, treinar em superfícies irregulares ou em horários de sol intenso, negligenciar hidratação, sono e recuperação, além de cometer erros na alimentação que podem levar a distúrbios metabólicos. Esses descuidos estão diretamente ligados às lesões mais comuns em corredores, como fraturas por estresse — que afetam ossos como tíbia, calcâneo e metatarsos —, tendinopatias e inflamações, incluindo tendinopatia de Aquiles, síndrome da banda iliotibial e fasceíte plantar. “Nos últimos anos, tem aumentado o número de casos de fratura por estresse e edema ósseo nos consultórios, muitas vezes decorrentes da falta de avaliação médica e de orientações adequadas antes do início dos treinos”, ressalta.
Cinco dicas para escolher o tênis ideal para corrida
1. Tênis – não existe o calçado ideal. Escolha o que for mais confortável e estável. Sempre teste antes de começar a correr. A ideia da pisada ideal não é mais aceita através dos estudos atuais.
2. Busque estabilidade – escolha modelos que se adequem ao seu pé, de forma individual, ofereçam firmeza, reduzindo o risco de torções durante treinos e provas. Não existem marcas ideias para todos os pés. Cada um vai se adaptar com um tênis específico.
3. Atenção ao ajuste – evite tênis muito apertados ou folgados demais, que podem causar bolhas, calos e desconfortos.
4. Teste antes de competir – use o tênis em treinos antes da prova para garantir adaptação e conforto.
5. Troque periodicamente – a estrutura de amortecimento se desgasta com o tempo; em geral, recomenda-se substituir o calçado a cada 600 a 800 km percorridos.
David Sadigursky reforça que a prevenção deve começar semanas antes da prova, com etapas bem definidas: avaliação médica e ortopédica, fortalecimento muscular, treino funcional, correção biomecânica da corrida e progressão gradual da quilometragem. “A base do tratamento esportivo é sempre não medicamentosa: mudança de estilo de vida, sono adequado, alimentação equilibrada e treino estruturado. Só depois entram medidas como medicações e infiltrações, em casos selecionados”, explica.
A ortopedia moderna também dispõe de recursos que podem auxiliar no preparo e na recuperação de atletas. “Infiltrações com ácido hialurônico ou ortobiológicos, além da fisioterapia avançada e da terapia por ondas de choque, já são aplicadas em casos específicos para modular inflamação e favorecer a cicatrização dos tecidos. Mas nada substitui o fortalecimento e o acompanhamento adequado”, afirma.
Quando sinais de dor aparecem durante os treinos, a orientação é interromper a atividade, aplicar gelo na região dolorida e evitar sobrecarga, buscando avaliação médica em caso de dor persistente, inchaço ou limitação de movimento.
Para o especialista, a corrida deve ser vista como um investimento em saúde e longevidade. “Participar de uma maratona é uma experiência transformadora, mas exige preparo. Assim como um remédio, a diferença entre o benefício e o prejuízo está na dose. Correr na medida certa, com treino estruturado e respeito ao corpo, garante uma prática segura e prazerosa por muitos anos”, conclui Sadigursky.
Sobre David Sadigursky
David Sadigursky é ortopedista graduado em Medicina pela Universidade Federal da Bahia, mestre em Cirurgia do Joelho pela Universidade de São Paulo (USP) e doutorando pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP). Ele realizou fellowship em Doenças da Cartilagem e trauma esportivo na Harvard Medical School, em Boston, EUA, e em cirurgia ortopédica de artroplastia do joelho no Hospital CLINIC, em Barcelona, Espanha. Possui pós-graduação em Clínica da Dor pelo CTD e em Intervenção em Dor pela Universidade da Coreia, em Seul. É membro titular da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), da Sociedade Brasileira de Cirurgia do Joelho (SBCJ) e da Sociedade Brasileira de Artroscopia e Traumatologia do Esporte (SBRATE). Participa ativamente da Sociedade Internacional de Artroscopia, Cirurgia do Joelho e Esporte (ISAKOS) e é membro associado das sociedades de dor e medicina regenerativa, como SBRET, SBED e SOBRAMID. Atualmente, é sócio da Clínica Omane e diretor do centro de estudos em terapias celulares.