Equipes multidisciplinares ampliam sucesso no tratamento do câncer de mama
Reconstrução imediata após cirurgia reduz impacto físico e emocional da doença
O Outubro Rosa volta a iluminar o país para além da prevenção: o enfrentamento do câncer de mama passa, cada vez mais, por tratamentos combinados que envolvem diferentes especialidades médicas. Do diagnóstico à cirurgia, da quimioterapia à reconstrução mamária, a abordagem multidisciplinar tem se mostrado decisiva para melhorar qualidade de vida e prognóstico das pacientes.
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o Brasil registra 73,6 mil novos casos de câncer de mama por ano no triênio 2023-2025. Na Bahia, são estimados 4,2 mil diagnósticos anuais, com taxa de incidência de 43,28 casos por 100 mil mulheres. É o tipo de câncer mais comum entre as brasileiras, à frente do colorretal, do colo de útero e do pulmão.
“O tratamento do câncer de mama não pode ser fragmentado. Ele exige integração entre cirurgia, oncologia clínica, radioterapia, apoio psicológico e, sempre que possível, reconstrução mamária”, afirma o mastologista Leonardo Dias, coordenador do serviço de Mastologia do Hospital Mater Dei Salvador (HMDS).
Na mesma linha, o mastologista Ezio Novais, diretor médico do HMDS, reforça que a atuação conjunta é essencial: “Equipes multidisciplinares ampliam a chance de sucesso do tratamento, porque permitem que a paciente seja acompanhada em todas as dimensões da doença — física, emocional e social”.
Reconstrução imediata reduz traumas – A cirurgia ainda é o eixo central do tratamento. Em muitos casos, a retirada parcial ou total da mama pode ser acompanhada de reconstrução no mesmo ato cirúrgico, técnica que vem ganhando espaço no Brasil.
“Quando é possível, associamos a mastectomia à reconstrução imediata, minimizando traumas estéticos e psicológicos. Isso exige equipe coordenada entre mastologistas, cirurgiões plásticos e oncologistas”, completa Leonardo Dias.
O diretor médico do HMDS concorda: “A reconstrução imediata favorece a autoestima, acelera a reabilitação e não compromete os resultados oncológicos, desde que bem indicada”, acrescenta Ezio Novais.
Prevenção em foco – Embora a detecção precoce continue sendo determinante para aumentar as chances de cura, a prevenção não pode ser negligenciada. Práticas como atividade física regular, alimentação equilibrada, redução do consumo de álcool e abandono do tabagismo ajudam a diminuir o risco.
Diretrizes recentes do Ministério da Saúde recomendam mamografia anual para mulheres entre 40 e 69 anos, mesmo sem sintomas. Diversas sociedades médicas defendem há muitos anos essa faixa etária para a realização desse exame de rastreamento, por sua capacidade de detectar alterações antes de se tornarem palpáveis.
Mobilização social – Em Salvador e demais regiões onde a Rede Mater Dei de Saúde está presente, a campanha “Elas por elas – Juntas pela prevenção” ganhou em 2025 um formato ampliado. Além de palestras e rodas de conversa, inclui mobilização em redes sociais, atividades interativas, treinos funcionais, grupo de apoio às pacientes, cabine instagramável para engajamento digital e parceria com veículos de imprensa.
A iniciativa também promove parceria com tatuador para mulheres que realizaram reconstrução mamária, distribuição de brindes, press kit para influenciadores e a criação de uma revista sobre saúde feminina da rede. Os eixos centrais são conscientização, empoderamento e solidariedade, com foco em apoio emocional e psicológico.
Desafio nacional – No sistema público, apesar dos avanços, ainda há gargalos no acesso ao diagnóstico e ao tratamento. Muitas mulheres chegam aos serviços oncológicos já com doença em estágio avançado, o que reduz as chances de cura.
O câncer de mama também tem um alto custo social: impacta a vida produtiva, a dinâmica familiar e gera sobrecarga emocional em pacientes e cuidadores. Pesquisas indicam que a reintegração ao trabalho e à vida social é mais rápida quando há reconstrução mamária e suporte psicológico estruturado.
“O futuro do tratamento aponta para terapias cada vez mais personalizadas, baseadas no perfil genético do tumor e no uso de medicamentos-alvo. Essa tendência, aliada ao acompanhamento multidisciplinar, deve ampliar as taxas de sobrevida e tornar o tratamento menos agressivo”, conclui Leonardo Dias.