Manifestações no Dia da Independência ocorrem em meio ao julgamento de Bolsonaro e aliados no STF
As celebrações do 7 de Setembro, tradicional data de manifestações pelo Dia da Independência, acontecem este ano em meio ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de sete de seus aliados, acusados de articular uma trama golpista. O contexto judicial amplia a relevância política das ruas, que devem refletir as tensões do processo mais importante da história recente.
Ruas divididas
De um lado, movimentos ligados à esquerda e apoiadores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva devem adotar o lema “Brasil soberano”, com foco na defesa da autonomia nacional diante de pressões internacionais, além de se posicionarem contra qualquer pedido de anistia.
Na outra ponta, grupos bolsonaristas devem concentrar discursos na defesa da anistia e em críticas às investigações que atingem o ex-presidente. As manifestações também devem incluir pautas recorrentes, como a defesa da aplicação da Lei Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes, além de manifestações de apoio ao ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump.
Julgamento e pressão internacional
Com a condenação do núcleo principal da trama golpista considerada cada vez mais provável — o Supremo Tribunal Federal (STF) retoma a votação na próxima terça-feira (9) —, cresce a expectativa de que os atos ampliem o apelo por sanções internacionais contra autoridades brasileiras.
Para Bolsonaro, os protestos funcionam como demonstração de apoio em um momento de vulnerabilidade política e jurídica. Sob prisão domiciliar, com restrições de visitas e risco de penas que podem ultrapassar 40 anos, o ex-presidente enfrenta a acusação de liderar o plano golpista.
Malafaia sob os holofotes
Um novo elemento promete inflamar ainda mais a mobilização: a inclusão do pastor Silas Malafaia no inquérito que investiga tentativas de buscar sanções internacionais contra o Brasil.
Apontado como um dos principais organizadores dos atos, Malafaia coordenará a manifestação na Avenida Paulista, em São Paulo. Será sua primeira aparição pública desde a operação da Polícia Federal que vasculhou sua residência e apreendeu materiais. O pastor é acusado de articular, ao lado do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), estratégias para obstruir o andamento do processo contra o ex-presidente.
Em resposta, Malafaia gravou vídeos contestando as acusações e afirmou que a investigação aumentará a mobilização de fiéis, fortalecendo a base evangélica nas ruas.
Tema central: anistia
Para o cientista político Paulo Ramirez, da ESPM, o 7 de Setembro servirá como termômetro para medir a força da militância bolsonarista. Ele lembra que a articulação pela anistia começou nos bastidores do Congresso, mas pode ganhar novo fôlego com as manifestações.
“As negociações vinham ocorrendo nos bastidores, com bolsonaristas defendendo uma anistia ampla ou, ao menos, a redução das penas. Esse movimento está ligado diretamente ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que tem atuado junto ao Centrão e à base bolsonarista nesse sentido”, afirma.
Segundo Ramirez, a baixa mobilização nos primeiros dias de julgamento pode ser explicada por fatores logísticos. No entanto, a expectativa é que a data cívica concentre os atos em maior escala.
“O julgamento começou em dias úteis, quando muitos trabalham. O verdadeiro termômetro será o 7 de Setembro, especialmente em locais como a Avenida Paulista, onde religiosos ligados a Malafaia devem marcar presença. Esse será o teste definitivo de apoio”, analisa.