Inflamações podem desencadear problemas cardíacos e dificultar controle do diabetes
Mais do que um sorriso bonito, a saúde bucal é uma questão diretamente relacionada ao bem-estar do corpo. Segundo o Conselho Federal de Odontologia (CFO), além de prevenir as temidas cáries e evitar a perda dos dentes, os bons hábitos de higiene são meios preventivos contra o desenvolvimento de doenças sistêmicas graves, como diabetes e problemas cardíacos.
Cirurgião-dentista e professor do curso de Odontologia do Centro Universitário UniFG, Diego Dias explica que doenças bucais comuns, a exemplo de gengivite e periodontite, representam focos de inflamação que afetam todo o organismo. “Os diabéticos, por exemplo, têm mais dificuldade em combater bactérias que atingem a gengiva. Em contrapartida, a inflamação crônica na boca torna o controle do açúcar no sangue muito mais difícil, pois afeta a forma como o corpo usa a insulina. É um ciclo vicioso”, esclarece.
Os impactos no coração também são preocupantes, pois a periodontite libera substâncias inflamatórias que podem contribuir para o acúmulo de placas nas artérias, conhecida como aterosclerose, aumentando o risco de infarto. O especialista ainda reforça que a gengiva inflamada funciona como uma ferida aberta, permitindo que microrganismos e toxinas entrem na corrente sanguínea e viajem pelo corpo.
“As bactérias podem se alojar em tecidos do coração, causando uma infecção grave chamada endocardite bacteriana. Além disso, em pessoas com saúde mais frágil, a inalação de bactérias da boca pode resultar em pneumonia bacteriana”, alerta.
Prevenção começa em casa
Conforme o cirurgião, a saúde bucal influencia na alimentação, fala e autoestima. Dentes e gengivas saudáveis permitem mastigação adequada, fundamental para a digestão e absorção de nutrientes, enquanto dores, mau hálito e perda dentária interferem na disposição para interagir socialmente.
No intuito de conter situações que prejudicam a qualidade de vida, o recomendado é manter cuidados diários focados na remoção das placas bacterianas. O primeiro passo é a escovação correta, que deve ser feita três vezes ao dia, ou após as principais refeições, por pelo menos dois minutos, utilizando escova de cerdas macias e pasta com flúor. O Ministério da Saúde orienta a troca da escova a cada três meses.
O uso do fio dental é a segunda prática indispensável, uma vez que atua onde a escova não consegue chegar: entre os dentes e abaixo da linha da gengiva. Sem o item, cerca de 30% da superfície do dente não é limpa, favorecendo o acúmulo de placas. “É o fio que remove o biofilme nessas áreas críticas, prevenindo tanto as cáries que se formam entre os dentes, quanto a inflamação que leva à gengivite e periodontite”, ressalta o profissional.
Outro cuidado, muitas vezes esquecido, é a limpeza da língua. Usar um raspador ou a própria escova para limpar a superfície lingual é crucial para combater o mau hálito e reduzir a carga bacteriana geral da boca.
Visitas regulares ao dentista
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), divulgados em 2024, revelaram que 60% da população evita consultas odontológicas e 20 milhões de brasileiros nunca foram ao consultório. O professor do curso de Odontologia da UniFG pontua que a frequência ideal é de pelo menos duas vezes ao ano.
Assim como a limpeza profunda e remoção de tártaro, as visitas servem para a realização de exames clínicos completos. “Nesses momentos podemos identificar cáries, lesões, sinais precoces de doenças gengivais e até mesmo câncer bucal, antes que se tornem problemas sérios”, enfatiza.
Para pacientes com histórico de periodontite ou condições como diabetes, o indicado é o acompanhamento mais próximo, a cada três ou quatro meses. O diagnóstico precoce é fundamental para evitar complicações e garantir tratamentos mais eficazes.