Considerado um problema de saúde pública, a insuficiência cardíaca é uma síndrome que impede que o coração bombeie o sangue de forma eficiente para o corpo. As estimativas são de mais de 200 mil novas internações por causa do problema. No Brasil, apenas em 2024, a região Nordeste teve a segunda maior concentração de casos, com 22,8% do total. Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia, entre os anos de 2018 e 2021, foram mais de 80 mil óbitos registrados no país.
Coordenadora médica da Clínica Florence, Yanne Amorim revela que a reabilitação cardiovascular pode ajudar na redução do número de internações hospitalares e em uma maior sobrevida com qualidade. “Existem estudos que mostram que a reabilitação ajuda o paciente a tolerar mais exercícios, reduz a fadiga, melhora a falta de ar e, com isso, ele ganha mais qualidade de vida e autonomia”, explica.
Essa reabilitação, porém, deve ser multidisciplinar, envolvendo as equipes de fisioterapia, suporte psicossocial, nutrição, enfermagem e médico, para que o paciente conquiste independência para realizar as atividades do dia a dia. Além disso, o programa de reabilitação deve ser individualizado, porque cada grau da insuficiência cardíaca possui uma limitação funcional específica.
Yanne Amorim conta que o primeiro passo é uma avaliação inicial para entender as necessidades do paciente. A ação psicossocial é essencial, especialmente para aqueles mais ansiosos ou com tendência para a depressão. “É importante que o paciente seja educado sobre os sintomas que ele apresenta, de forma a poder utilizar algumas medidas para controle. E o programa de reabilitação precisa de um acompanhamento contínuo, para que a gente possa entender o que está ou não funcionando para cada paciente”, complementa a médica.
Além disso, a família também tem um papel importante em todas as fases do tratamento de reabilitação, desde o incentivo à adesão até o suporte emocional e social. Na Clínica Florence, por exemplo, os familiares podem fazer um acompanhamento 24 horas e participar da rotina dos pacientes, aumentando ainda mais o rendimento e melhorando o resultado do tratamento.
Sintomas e tratamento
Um dos principais motivos para os números preocupantes de hospitalização de pacientes com insuficiência cardíaca é que a busca por ajuda acontece já nos estágios mais avançados da doença. É preciso estar atento aos principais sintomas da síndrome, tais como: dispneia (falta de ar), edema (inchaço) nas pernas e nos pés, fadiga, perda de apetite, tosse, tonturas, coração acelerado, dentre outros.
Para a médica Yanne Amorim, a reabilitação também tem um papel fundamental no controle dos sintomas da doença. “Quanto mais você vai promovendo esse controle, mais você consegue atuar contra esses sintomas, como na redução de edema ou menor sensação de fadiga. Isso ajuda o paciente a ganhar funcionalidade, melhorar o humor, bem-estar e, consequentemente, ter mais qualidade de vida”, diz.
Pacientes com problemas como diabetes mellitus, hipertensão e doença renal crônica são considerados grupo de risco e devem fazer um check-up da saúde cardíaca com frequência. O tratamento da insuficiência cardíaca é feito de forma medicamentosa, aliado a uma mudança de estilo de vida, que engloba uma alimentação balanceada e saudável, prática de exercícios físicos e controle do peso.
Cuidado paliativo
Em casos mais graves, os cuidados paliativos podem ser uma opção, especialmente para pacientes com insuficiência cardíaca com classe funcional 3 ou 4, onde há sintomas refratários, com muita falta de ar, inchaço e dor. Desse modo, a indicação é atuar no controle dos sintomas e no alívio do sofrimento do paciente, reduzindo a percepção de incapacidade.
Doutora Yanne Amorim complementa que os pacientes candidatos ao cuidado paliativo são aqueles que estão frequentemente em hospitalização, que respondem pouco ao tratamento já otimizado ou que apresentam um declínio funcional persistente.
“É preciso promover uma conscientização sobre a existência do programa de reabilitação para pessoas com insuficiência cardíaca, inclusive a reabilitação paliativa, para que o paciente com uma doença mais avançada tenha mais funcionalidade e receba acolhimento e assistência para uma melhor qualidade de vida”, finaliza a médica.